Nos últimos meses, os quais eu tenho vivido uma rotina completamente nova em relação aos anos anteriores, reparo cada vez mais no lugar onde eu moro: a Zona Sul de Porto Alegre. Nasce forte um sentimento patriota para com este conjunto de coxilhas, riachos, praias e banhados ainda pouco urbanizados. Quero entender profundamente todos os detalhes dessa face do planeta.
As ruas deste lugar têm uma história nova, mais natural que humana, pois há menos de um século este lugar era como há 100 mil anos - morros, campos, capões e alagados à beira de um lago magnífico. Com a chegada dos europeus, este lugar começou a mudar. Vieram as chácaras, seguidas de postes de luz, casas e asfalto. As indústrias no vale do rio dos sinos fez efervescer a Zona Norte - migrantes de todos os cantos do Rio Grande do Sul compareceram para desfrutar de novas oportunidades ou encarar novas dificuldades. Que dirá um economista ao comparar a Av. Carlos Gomes de hoje com a de 50 anos atrás? Entretanto, este crescimento econômicos não se configurou aqui, nestes pagos da zona sul.
Hoje, o dinheiro do mundo inteiro passa pela zona Norte de Porto Alegre, ao contrário da zona Sul. Aqui é o lugar para onde foram morar as massas trabalhadoras, a classe média emergente das últimas décadas e algumas elites novas também, nada muito tradicionais. Os bairros que foram magnificamente arquitetados para as tais elites, como Assunção, 7º Céu e Vila Conceição, agora jazem em um silêncio "quase" mortal dos aposentados.
Enquanto o Norte crescia, o Sul esperava. Agora, em 2009, não há mais espaço físico para habitação na zona Norte. Eu vejo que chegou a hora da zona sul: o crescimento econômico vai vir para cá junto com as milhares de pessoas que compram terrenos residenciais e casas em condomínios que no ano 2000 eram sítios e campestres.
Essa nova e efetiva onda econômica que está em andamento não está nas mãos de ninguém, mas de todos. O crescimento será caótico e desordenado, sem planejamentos nem preocupações ambientais, sociais e paisagísticas. Caso este descaso permanecer, as contradições sociais vão se aprofundar além do que já estão. Como exemplo eu cito o Terra Ville e a estrada Chapéu do Sol: os dois são bem próximos e as contradições são grandes, como os campos de golfe enormes no ramo privado e casas pré-moldadas jogadas às traças para o espaço público.
Para onde vão as praças e os parques, se todas as áreas que estão sendo ocupadas são condomínios privados? Para onde vai a paisagem? Tenho a impressão que em poucos anos vão existir mais "Barras Shoppings" ao lado de riachos podres rodeados de barracos e cortiços.
Eu proponho, em contra partida à esse futuro, uma Zona Sul planejada, arejada, limpa, como centro de atividades culturais, naturais, saudável e sem contradições. Proponho a construção, em vez de "Terras Villes", de novos bairros planejados para todos e não para uma minoria. Proponho uma Zona Sul essencialmente pública.
Zumbilandia
Há 14 anos
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