Esse quarto semestre foi de longe o mais decepcionante de todos. Não o pior ou o mais chato (postos que ficam com o primeiro), mas o mais decepcionante. Estritamente esse adjetivo, por que foi o semestre que melhor começou, e pior terminou.
O início foi excelente. Todas cadeiras pareciam promissoras, os assuntos eram interessantes, bons professores. A exceção geram fica com Inglês Instrumental, que já começou um porre, mas vamos esquecer isso por enquanto. O fato é que Teorias da Comunicação, apesar de complicadíssima, parecia muito intrigante, um bem-vindo desafio, se posso falar isso. Comunicação e Cidadania era humano e fácil. E a eletiva História das Literaturas, no Vale, estava o máximo.
Era a melhor de todas. Gostei da professora, e do método de ensino usado, além, obviamente, do conteúdo estudado. Consegui ler o texto exigido para a primeira aula, e fui o aluno que mais comentou. Eu estava gostando e entendendo – o mais importante.
Então, a primeira tragédia. Trocam de professor. Já tinha passado praticamente um mês de aula, e os imbecis tiram a professora, e chamam outro cara. Enfim, que seja. Para o bem ou para o mal, o novo professor era ótimo. Com um porém: mudou completamente o plano de ensino, e eu perdi o pique. Não li os textos, e acompanhava as discussões muito superficialmente. Agora, na hora de fazer o trabalho final, fiquei boiando por horas até encontrar algo que eu pudesse usar.
O foda de ter um professor cabeça aberta é que ele deixa o trabalho muito tua conta. “Cara, tu que escolhe”, é o que ele nos diz. Legal! Mas sobre o que raios eu posso falar em um trabalho de uma cadeira tão ampla quanto História das Literaturas? Eu não sei. Ainda mais eu, que não li quase nenhum texto. É, me sinto um idiota. Eu poderia ter aproveitado muito mais a cadeira, e já estar com um trabalho foda em andamento. Até tive umas ideias boas para o trabalho. Pensei, com a sugestão do meu pai, em fazer algo relacionado a Cinema. Comparar o cânone literário com o cânone do cinema, como um influencia ou não o outro, ou por que o cânone do cinema é tão mais heterogêneo que o da literatura. Legal, né? É interessante, eu gosto. Perguntei para o professor se eu poderia fazer algo assim, e ele deu resposta positiva. Mas aí eu me dou conta que isso é tópico para uma monografia, no mínimo. E eu estou no 4º semestre, e detesto academicismo. Odeio mesmo. Se eu pudesse abolir todas as regras da ABNT, eu faria isso. Então, tá, vou ler mais alguns textos da disciplina para ver se algo surge.
Então, outra ideia: um ensaio sobre a recepção de Sherlock Holmes com o passar dos anos. As diferentes impressões que os públicos de diferentes épocas tiraram do personagem. É um máximo! Eu adoraria fazer essa pesquisa. Mas, de novo, é uma fucking pesquisa! É um trabalho grande, extenso. E eu tenho uma semana, UMA semana pra terminar essa coisa.
Pois é, que merda. Botei fora a chance de fazer algo bem feito e relevante. E agora? Não vou não entregar, e ser reprovado, e me afundar ainda mais naquele ordenamento de merda da UFRGS. Aliás, alguém entende como funciona aquilo? Tá, tente ir o melhor possível e blablabla, mas isso não responde a pergunta, e sim a inflama. Ninguém sabe explicar como operam as engrenagens dessa coisa chamada ‘ordenamento’. E detesto esse nome. E mais uma idiotice do negócio é que se, durante a matrícula tu cancela uma cadeira, tu cai no ordenamento. Entenderam? Eu disse DURANTE a matrícula. Tu te fode se tu ajeita tua matrícula durante o período de fazer isso. What’s the point?! Que seja, não é importante agora.
O que eu quero mesmo falar é que o semestre foi uma bosta.
Teorias da Comunicação também começou promissora, foda. Mas teve tantos feriados no terça-feira, que tu não tinha mais como acompanhar o ritmo da coisa. Eu entrei em ritmo de férias. Por que, porra, a gente não teve aula na terça por TRÊS SEMANAS SEGUIDAS. Assim não dá! Não tem como não entrar na vagabundagem nesse tempo. Tirei B- no primeiro seminário, e A- na prova (não sei como, já esqueci 90% da matéria), e agora falta saber a nota da análise de Cidadão Kane (note que, sendo menor que um B+, eu vou... fazer algo absurdo – ainda a decidir, falta saber a nota do segundo seminário, e ainda tem mais a segunda prova, e depois temos que analisar O Enigma de Kasper Hauser. Só eu e outro cara já tivemos aula com o Alexandre antes. E, tipo, o Alexandre é inominável. Ele é inteligente pra caralho, tem sei lá quantos pós-doutorados (na França), teve aula com o JACQUES DERRIDA, trabalhou COM a Elis Regina (não ‘fez um trabalho sobre’, não, ele de fato trabalho COM ELA), e não tem mais 35 anos – se ele é mais velho que isso, ele dorme em formol, por que, né. Então, eu já sabia o que estava por vir. O Alexandre sabe deixar a coisa interessante, por mais banal ou absurda que ela seja. O foda é que são tantas teorias EXCLUDENTES, que tu não sabe mais o que é certo e o que tá errado. Até que tu aprende que ‘certo’ e ‘errado’ são palavras inexistentes quando se fala em teorias da comunicação. Além disso, outra complicação é que tu não pode usar uma teoria pra completar outra, por que, bom, tu não pode.
Eu já não sei mais em que pé eu estou na cadeira. Com exceção do texto do seminário do meu grupo, sobre O Mundo Codificado (sacou?), eu só li UM dos outros textos desse segundo bimestre. Então é, pois é, tá complicado.
Pra completar a merda da situação, eu notei que eu tenho 7 As, 5 Bs e 6 Cs, e um FF de brinde. Ou seja, um currículo ridículo. Seis Cs. No início eu tava cagando e andando com conceitos e tal, mas agora eu noto que tirar o C no faculdade, mesmo tu sendo aprovado com essa nota, é a mesma coisa que tirar 4 no colégio. Ou seja, é uma nota que te reprova. Por que, sejamos honestos, só o símbolo C já é um símbolo pessimista, já te deixa pra baixo. É literalmente METADE de um círculo, metade de uma circunferência (palavras que não por acaso começam com um maldito C).
Estou querendo trocar de curso, mas o papai e a mamãe não gostaram da ideia. Disseram que o negócio de ter notar medianas é irrelevante, que no final ninguém perguntar quantos Cs tu tirou durante a faculdade; não vão nem perguntar se tu é da UFRGS ou não. Mas, cara, eu me sinto um IDIOTA. Não só pelas notas. Todo mundo que eu conheço faz algum estágio metido à besta. Mas, pra conseguir um estágio, metido à besta ou não, até agora, só já tendo feito um estágio antes. É assim, toda oferta de estágio que aparece é exigindo que tu já tenha “experiência”, que eu já tenha feito estágio antes. Como é que eu vou conseguir “experiência” se, para consegui-la, fazendo a porra de um estágio, eu preciso JÁ TER FEITO UM ESTÁGIO ANTES??? Isso é idiota, é ridículo, um ciclo vicioso. Mais: é um SOLIPSISMO. Palavrinha que descobri lendo a tradução da Crítica da Comunicação do Lucien Sfez. E se tu não fez Teorias da Comunicação, tu provavelmente não entendeu porra nenhuma do que eu acabei de falar. Anyway, isso é só pra expressar minha raiva, meu modo alongado e único de ligar o ‘foda-se’.
E por fim, o motivo de eu ter feito todo esse manifesto inútil de reclamações pessoais, é afiar a escrita, por que eu ainda preciso COMEÇAR a escrever o trabalho de História das Literaturas, cujo assunto abordado será a influência da Estética da Recepção nos estudos dos efeitos da comunicação de massa nos EUA. E eras isso. Agora já passou da 1h, o que é praxe pra mim, mas amanhã eu tenho que acordar cedo (antes das 11h), então não sei como vou fazer pra continuar a escrever sem adentrar na madrugada. Merda.
Um comentário:
Olha, embora não enfrente a mesma situação, na essência eu passo pelo mesmo -- estar fazendo o curso que não é o que eu realmente quero (inclusive, o que queremos é o mesmo). Dito isso, só me sensibilizo com a sua situação. E desejo sorte. Abraço.
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