sexta-feira, 31 de outubro de 2008
A Comuna de Oaxaca - por Iporã Possantti
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Interpretação: Helga [2]
Aparentemente confusa até por volta da metade do conto – mais especificamente quando Paulo nos detalha o momento exato no qual conheceu Helga – a história toma um rumo mais linear a partir daí até o derradeiro final, que nos explica o porquê da confusão inicial.
Pois bem, no início, Paulo – filho de alemã com um brasileiro, vivendo no Brasil - nos conta, não muito claramente, o fato de ter herdado o nome de seu pai sem tê-lo conhecido, e um pouco de seu passado envolvendo nazismo. Cita o nome de Helga em quase todos os parágrafos (nos dá a entender que foi seu grande amor) e é somente depois de relatar sua participação na II Guerra Mundial ao lado da Alemanha que podemos dizer que o conto realmente começou, pois Helga finalmente entrou na história.
Paulo diz ter conhecido Helga em uma farmácia para qual vendia mantimentos – a guerra tinha acabado e ele arranjara um modo de ganhar dinheiro vendendo tal tipo de coisa. Eis então que descobre, ao convidá-la para dançar, que Helga só tinha uma perna e que o que parecia ser a outra, era na verdade uma perna ortopédica – que seu pai Wolf, dono da farmácia, havia conseguido a muito custo, uma vez que isso era extremamente caro (e ainda o é).
Dias passam e Paulo fica amigo íntimo de Helga e de seu pai, que lhe conta seus planos para acumular uma pequena fortuna: investir em penicilina. O grande problema era o capital inicial. Precisava-se de muito dinheiro para começar tal negócio. Mais um tempo naquela situação, e Paulo comenta em casamento.
Agora, já no final da história, somos apresentados ao verdadeiro Paulo Silva. Sim, claro, ele se casa com Helga. Porém, casa-se em outra cidade e de noite rouba a perna ortopédica, foge, e vende o apetrecho. Consegue o dinheiro, investe em penicilina, fica rico e volta para o Brasil.
Terminada a leitura, acabamos descobrindo que Paulo era um grande canalha (para não dizer outra coisa); de fato, um nazista. Ficamos chocados ao constatar o sujeito que nos contou sobre uma Helga que parecia ser sua amada na verdade nunca a amou. Temos vontade de não acreditar naquilo que acabamos de ler; consideramos desconfortável e até implausível o tal desfecho.
Porém, ao relermos o conto, percebemos que o final, infelizmente, não é implausível. Aliás, é bem provável. A autora, competente como de costume, nos deixa pistas, à primeira vista ocultas, sobre o que acontecerá na trama. A linguagem enrolada do início da narrativa é uma prova disso. Notamos então que todo o texto é uma lamentação, um contido sentimento de culpa, e também uma autopunição – como o próprio Paulo Silva aparenta acreditar que seja.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Retomando o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro
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Pouco mais de uma semana depois da minha postagem, no dia 9 de setembro, saiu essa lista com os filmes pré-selecionados:
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- A Casa de Alice, de Chico Teixera
- A Via Láctea, de Lina Chamie
- Chega de Saudade, de Laís Bodanski
- Era Uma Vez..., de Breno Silveira
- Estômago, de Marcos Jorge
- Meu Nome Não é Johnny, de Mauro Lima
- Mutum, de Sandra Kogut
- Nossa Vida Não Cabe num Opala, de Reinaldo Pinheiro
- Olho de Boi, de Hermano Penna
- Onde Andará Dulce Veiga?, de Guilherme de Almeida Prado
- O Passado, de Hector Babenco
- Os Desafinados, de Walter Lima Júnior
- O Signo da Cidade, de Carlos Alberto Riccelli
- Última Parada 174, de Bruno Barreto
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(E no dia 16 de setembro, foi anunciado o longa-metragem que representará o Brasil na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009: Última Parada 174.)
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Envergonhado, confesso que não assisti a nenhum dos longas-metragens. Porém, conheço 11 dos 14 títulos; e, a partir das informações que possuo, não acredito que esteja em uma posição muito desapropriada para tratar do tema.
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Isso (com exceção do pequeno parágrafo entre parênteses) e mais duas páginas e meia de texto era o que seria minha próxima postagem. Desisti dela. Resolvi fazer algo mais interessante, desafiador, íntegro e sem a visível hipocrisia presente no parágrafo acima – não acredito que o escrevi; vai contra os meus ideais.
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Eis o que farei: assistirei a todos os filmes da lista e comentarei sobre quais seriam suas chances de conseguirem a indicação ao Oscar. Tendo-os assistido, poderei falar sobre seu conteúdo sem o peso da consciência culpada. Daí, poderei dizer se o júri brasileiro escolheu o filme certo para tentar uma estatueta.
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Cada filme renderá uma postagem própria (a não ser que eu assista mais de um filme em um dia). Com isso, assim como disse que pretendia fazer uma série sob o título de 'Interpretação' para meus textos interpretativos, aqui pretendo fazer um série para esses comentários dos filmes sob o título de 'OMFE, Parte I: Pré-seleção de longas brasileiros' - [para quem não percebeu, OMFE é sigla de 'Oscar de Melhor Filme Estrangeiro']. E já aviso que seguirei com essa série até depois do anúncio dos 9 pré-indicados oficiais da Academia, partindo, então, para a Parte II; e finalizando com a Parte III, quando a seleção final dos 5 indicados for anunciada dia 22 de janeiro (juntamente com todos os indicados da premiação, o que dará fruto para diversas postagens sobre o assunto).
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
E o Carro? - Por Iporã Possantti
domingo, 12 de outubro de 2008
Interpretação: Antes do Baile Verde
Aqui, Lygia Fagundes Telles descreve a conversa entre duas mulheres, uma branca e uma negra, que se preparam para uma noite carnaval intitulada Baile Verde. Demora um pouco, mas logo constatamos que uma (a negra) é empregada da outra.
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Mas as duas não aparentam ter uma relação de mera formalidade (entre patrão e empregado), mostram-se amigas. Eis então que a patroa, chamada Tatisa, está preocupada em terminar de colar as lantejoulas na sua fantasia. Logo, pede a ajuda da empregada, Lu - que por sua vez diz se preocupar em deixar o marido Raimundo bravo com sua demora.
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Conversa vai, conversa vem, e ficamos sabendo que o pai de Tatisa está muito doente, aliás, em seus últimos dias. E da metade do conto para o fim, as duas mulheres ficam nesse assunto.
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Lu diz que o velho não passa dessa noite, mas Tatisa teima em não acreditar. Os diálogos entre as elas ficam desse jeito: Lu se concentra em terminar o vestido da patroa, colando as lantejoulas, e avisando que Raimundo ficará raivoso; Tatisa diz que elas têm tempo, e a cada fala, enquanto Lu tenta descontrair a si e à patroa, falando sobre o carnaval passado (que Tatisa não pôde ir), ela comenta sobre o pai, dizendo que Lu tem de estar errada a respeito da saúde do velho.
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Além disso, não há muito a ser dito. A não ser a insistência de Tatisa em pedir que Lu fique com seu pai esta noite, mas Lu diz que jamais perderia o Baile Verde – nem para ficar com o próprio pai.
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O que pode ser concluído? Não tenho certeza. Provavelmente muito mais do que o conto aparenta nos dizer. Minha resolução é que se trata de uma crítica ao comodismo da vida dos mais abastados da sociedade. Pois a autora constrói as falas das duas personagens de modo a mostrar que Tatisa é muito mais frágil que Lu. Percebe-se isso quando o assunto do pai entra em jogo. Lu diz que passou no quarto do velho, e afirma que ele não passará daquela noite; já Tatisa reclama dizendo que não. E não apenas diz que não, ela, a cada fala, quando Lu já tinha até passado a conversa adiante, ela volta atrás, falando que Lu só poderia estar errada. Isso demonstra a fraqueza emocional de Tatisa.
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Outros dois fatos interessantes, e relevantes, a serem notados são:
Primeiro - Tatisa não ter ido ao último carnaval, afirmando ter estado doente na ocasião. Talvez seja por isso que ela insista tanto para Lu ficar com seu pai – e conseqüentemente perder o Baile Verde. Uma atitude retardada de vingança (inveja seria um termo melhor). O que prova sua imaturidade como pessoa.
Segundo – Lu comentar, com vigor, que não perderia o baile nem pelo próprio pai.
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Esses dois fatos reforçam minha teoria sobre real intenção da autora neste conto.
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
A Hipocrisia do Político
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Confesso que, por (quase) puro preconceito, sempre desconsiderei Lula como um político a ser levado a sério - isso durante muito tempo. Já deixo claro: não sou partidário das políticas socialistas, comunistas e afins; todavia, não era esse o motivo principal que não me levava a crer na possível figura de um Lula Presidente da República. Não; uma vez que sua proposta de plano de governo não era de tal natureza, ainda que proveniente de um partido da mesma. O que eu não conseguia admitir era o fato de um sujeito que mal sabia pronunciar o português - e problemas de dicção não sendo a causa disso - tomar posse do maior cargo político da nação.
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(Em nome da ética, informo-lhes a verdadeira imagem que eu tinha de Lula. Eu poderia muito bem esconder isso, mas quero que quem lei saiba esse texto exatamente o que pensei e o que penso agora.)
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Anos passaram; amadureço e realizo que Lula também amadureceu. Passou a falar mais corretamente e comentar de forma mais concisa. Meu preconceito sobre ele não existe mais.
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Porém, devido a solicitação de tais ‘privilégios vitalícios’ citados no texto ‘Sr. Presidente, Sr. Oligarca’ – em que Iporã pontua muito bem a hipocrisia dos mesmos -, passo a ver Lula de duas maneiras: um hipócrita, ao ir contra seus verdadeiros ideais políticos; ou um fantoche de Tarso Genro. Das duas uma. (Aliás, independente de gostar ou não de Lula - pelos mais diversos motivos - muito pior que ele é Tarso Genro. Ainda farei um texto concretizando meu ponto de vista a respeito desse político que, de forma extremamente errônea, foi nomeado Ministro da Justiça.)
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Agora o preconceito que eu tinha a respeito de Lula está voltando. Não... Não, não. Agora não é preconceito.