quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Caos Reina no Anticristo em mim

Hoje foi um dia muito peculiar. Precisando fazer a recarga no TRI, fui de carona com a minha mãe até o centro. Cheguei ao local, entreguei o recibo e o cartão. Recebo o cartão recarregado com 115 reais em passagem de ônibus, e pergunto:

-Tu sabe como eu faço para ir até o aeroporto?

Ela faz aquele olhar de quem acaba de sentir cheiro de peido. ‘Hum...’. Murmura com a colega do lado, que responde:

- De trem.

Minha vez de fazer aquele olhar de quem acaba de sentir cheiro de peido. Mas elas dão a explicação direitinho e convencem.

Nunca tinha andado de trem. Fui até a estação, ao lado da rodoviária, paguei a passagem (mais barata que o ônibus, acreditem), esperei pouco no terminal, entrei no trem, chego à Estação Aeroporto, não deu 10 minutos a viagem (mais confortável que o ônibus, acreditem). Gostei do trem.

Com horário mais do que folgado, 15h03, caminho pelas passarelas aéreas (que deviam existir por toda cidade) até o ponto de espera pelo microônibus da Infraero, que leva de graça até o Aeroporto quem chega do trem.

Vou direto para a bilheteria do Guion, e descubro que eles só começam a vender os ingressos 15 minutos antes da sessão – uma atitude que considero absurdamente idiota, mas vá lá. Então desço um andar e me dirijo para a revistaria/livraria que há no outro extremo no aeroporto. Lá sempre têm LP&M pockets em bom estado, e com títulos interessantes. Compro O Mercador de Veneza, do Shakespeare, e A Morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstoi. Afinal eu ainda tinha mais de uma hora até 16h15.

Passo então para o McDonalds e peço:

- Dois Chikens McJúnior e uma Coca pequena.

- Dois Chiken McJúnior... Coca média?

- Coca pequena.

Ela repassa a encomenda aos outros.

- Só aguardar aqui do lado.

Não sei porque ainda nos falam isso. Espero ali do lado. Chegam um Chiken, uma Coca, um leve empurrão da bandeja em minha direção, e um sorriso dizendo ‘Pronto’.

- São dois Chikens.

- São dois Chikens? – pergunta para a caixa que me atendeu.

- São dois Chikens. – responde a caixa que me atendeu.

Vem mais um. Saio, sento e como.

Ainda com a Coca inacabada – não sou o mesmo consumidor de refrigerantes que era, o gás dificulta a ingestão e a apreciação do líquido agora – preciso ir ao banheiro. Tranquilo. No aeroporto os banheiros são no mínimo não-sujos, e tem aquele mármore onde colocar a bagagem de mão dentro da cabine.

Terminado, vou em direção ao Guion, sento numa das cadeiras do Café Guion, e aproveito os minutos restantes até as 16h para ler um pouco da suposta comédia shakespeariana – vi a mais recente adaptação cinematográfica da peça, O Mercador de Veneza (The Merchant of Venice, 2005), com Al Pacino, e ela não se parece em nada com uma comédia, aliás, é um dos melhores dramas de época que já tive o prazer dever no cinema.

Chega a atendente, paro na ‘fila’ (um sujeito tinha chegado segundos antes de eu me levantar da cadeira), e compro o ingresso sem o menor problema. ‘Sem o menor problema’ porque Anticristo (Antichrist, 2009) é para maiores de 18anos, ainda não tenho 18 anos, e geralmente não tenho cara de quem tem 18 anos. Tudo certo. Também se implicassem eu já estava analisando as possíveis maneiras de barganhar a entrada (uma delas sendo contar que só tenho dezessete anos até durante as próximas 72 horas). Brüno (Brüno), Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds) e Gamer (Gamer) são os filmes para ‘maiores’ que, nessa ordem, eu vi no cinema esse ano. Só para o primeiro pediram minha carteira de identidade – e ou o mané não notou que eu não tinha 18, ou deixou passar, e por dois motivos: ‘ele faz 18 esse ano’ ou ‘ele está com alguém de 18 e faz 18 esse ano’. Se não perguntaram minha idade em Bastardos Inglórios, era porque eu estava com mais pessoas, e se não perguntaram em Gamer, era porque eu parecia ‘maior’ (embora a caixa parecesse meio desligada). Agora para Anticristo, eu tinha quase certeza que pediriam minha identidade. Isso porque é o filme mais polêmico do ano. No Brasil o filme não foi muito falado na mídia (saiu uma crítica da Isabela Boscov na Veja, mas eu não li porque foi a Isabela Boscov que escreveu, e porque saiu na Veja.), mas em Cannes a platéia ficou chocada (tá, são franceses), e o público geral teve reações à lá Jogos Mortais 3 (Saw III, 2006) – o mais violento de todos, que fez pessoas desmaiarem na Inglaterra (mas tá, são ingleses...). Então, mesmo sem o mesmo ‘auê’ no Brasil, pensei que não me deixariam em uma sessão (a única) de Anticristo.

Mas deixaram (e ainda bem que deixaram!). Pude finalmente ver um filme do mestre Lars Von Trier no cinema. Dele eu só tinha visto Dogville (Dogville, 2003), quase no cinema, na Sala Redenção da UFRGS, esse ano mesmo (adorei). O renomado diretor sueco tem sua fama por fazer filmes difíceis, densos e fascinantes. Dogville é assim.

Anticristo também.

É complicado achar palavras que descrevam Anticristo. É um filme diferente, porém não mais diferente que um filme comum. Estranho? Falar de Anticristo é tão estranho quanto o próprio filme e a experiência de vê-lo (no cinema). Pode-se interpretar o longa de duas formas: um drama sobre um casal que perdeu um ente querido, e uma ‘mostra’ das repercussões desse ocorrido, por meio de simbolismos; ou um terror psicológico com coisas sobrenaturais. Realmente eu prefiro ver o filme como uma mistura dessas duas opções. Serve tanto como um forte drama, quanto como um eficiente terror. De qualquer forma, é um filme que apresenta uma tese sobre o comportamento humano. E é complicado. Claramente coisas acontecem de forma explícita na história. Por outro, o único modo de entender isso direito, é preciso prestar atenção em coisas que não acontecem. Certos detalhes, referências visuais, palavras chave, gestos sutis. Caso contrário ao final do filme você pensará ‘O quê?’.

Tamanho é o minimalismo com que Von Trier ajeitou esses detalhes ao longo da história que eu não consegui perceber todos eles. Mas eu sei que eles estão lá. Como eu sei? Porque se notei alguns pontos que servem de explicação para algumas das coisas que acontecem aparentemente sem explicação, acho muito difícil que em uma revisão do filme eu não ligue os pontos que faltam. Do meu ponto de vista, entendi 2/3 do filme, e se eu encontrei uma interpretação que cobre 2/3 do que o filme apresenta, acredito que o 1/3 que resta pode ser explicado do mesmo modo. Só preciso ver de novo. E eu adoro precisar ver de novo! Não considero ruim um filme precisar ser visto mais uma vez para ser compreendido. Pelo contrário, acho isso uma qualidade, isso faz do filme uma divertida atividade de lógica, um quebra-cabeça intelectual. Cidade dos Sonhos (Mulholland Dr., 2002), obra-prima de David Lynch, 2001: Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968), considerado por muitos a melhor ficção científica do cinema, e Clube da Luta (Fight Club, 1999) são três filme que, caso você veja uma vez só, não absorvera tudo que eles têm para oferecer. Então, se quiser ver Anticristo, saiba que provavelmente precisará vê-lo de novo para entender tudo. A não ser, é claro, que você considere os acontecimentos do filme apenas como cenas de terror gratuito – o que eu duvido.

Se por acaso Anticristo não tenha conteúdo nenhum, a produção se encarrega de pelo menos dar uma bela forma a esse ‘nada’. Imagem e som trabalham juntos para nos mostrar as dores, os arrepios e as tristezas que os protagonistas sofrem. E que trabalho incrível! Penso se essa não é a primeira vez que sou testemunha de um uso tão espetacular da edição de som. Preciso dar os parabéns para a equipe de edição sonora, coordenada por Kristian Eidnes Andersen. Uau! Sério, tentem prestar atenção no som. Nunca as pessoas notam a paisagem sonora dos filmes, apenas as ocasiões em que uma melodia musical marcante ou canção é tocada – e se o autor é um conhecido do público então, daí é o filme que perde atenção. Oscar de Edição de Som (ou Mixagem; não sei diferenciar ainda, mas sei que são diferentes). A fotografia de Anthony Dod Mantle é impecável. Fazendo uso de uma paleta de cores cruas que dão uma atmosfera tétrica essencial ao filme (afinal, é um terror), também resultando em vários quadros que, fora do contexto aterrador que ganham no filme, ficariam lindos emoldurados em uma parede (vale dizer que a cena foto do cartaz, aí em cima, já pode ser considerada como antológica, e a mesma coisa para a última imagem do capítulo 5). Aliás, quase todo o filme, com a exceção de certas passagens (fáceis de notar), é bonito de se olhar:


(No entanto, friso na questão de imagem e som trabalharem juntos porque todas as cenas, todas as cenas (!) não chegariam a fazer nem uma vírgula do efeito que causam se a imagem e o som não estivessem harmonizados).

Von Trier escreveu um roteiro onde somente duas pessoas interagem durante o filme todo. Tirando os figurantes que surgem na tela porque menos de um minuto no início, todo elenco se resume a dois nomes: Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe (os dois absolutamente irrepreensíveis!). ‘Ela’ e ‘Ele’, literalmente. Sim, seus personagens não têm nomes. É verdade. E nós mal notamos isso. É o relacionamento de um casal. Os casais se chamam por segunda pessoa do singular ou apelidos afetivos – neste caso nem apelidos, mas enfim. Só que mesmo assim os personagens sempre têm um nome! É obvio que Von Trier poderia ter inventado um nome para cada um, mas o que ele fez foi muito melhor, e mais inteligente. Não chamando seus personagens por nomes, ele faz com que a mensagem do filme seja mais abrangente. Ele quer mostrar que o que acontece com Ele e Ela pode acontecer com qualquer ‘Ele’ e ‘Ela’. Entendem? E é mais profundo ainda.

O que o filme nos mostra – ao menos o que eu acho que o filme mostra – e o que pode ter dado a parecer preconceito por parte de Von Trier, é o papel da mulher na nossa História. Não exatamente o papel da mulher, mas o papel para a mulher. ‘Ela’ estava escrevendo sua tese, uma pesquisa sobre exatamente o que filme trata, que chamou de ‘Gynocide’. ‘Gynocide’ é uma palavra que perde o trocadilho em português, pois é uma palavra que combina duas palavras que combinam em inglês somente: genitais e genocídio. O trabalho d’Ela é metalinguisticamente o próprio filme que estamos vendo. O ‘Genocídio dos Genitais’ recebe seu momento carnal em Anticristo (não darei detalhes). Acredito que uma das facetas da explicação de Anticristo se dá através dessa específica relação entre a destruição do genital da mulher durante torturas na Idade Média por parte da Inquisição, o porquê disso e suas conseqüências na mente da mulher. Esse é apenas um em meio a um monte de crueldades que o Homem causou na Mulher – Von Trier apenas o usa como fio narrativo principal, mas faz menção, no geral, a toda a crueldade injustamente sofrida pela mulher. Quero dizer, para mim essa é a razão do filme. Quem termina de ver pode pensar que é justamente o contrário, agora qualquer um que tenha visto Dogville sabe que a última coisa que Von Trier teria é preconceito pela Mulher. Isso somado à incrível habilidade do diretor em dizer coisas sutilmente, é o suficiente para eu acreditar que o terror psicológico e as cenas de horror físico presentes no filme não são gratuitos e devem ter um significado mais profundo. Há vários eventos aparentemente incompreensíveis ao longo da projeção. Por exemplo, o pássaro que brota do chão, e outros animais em situação no mínimo bizarra. Aliás, os animais, e a Natureza em si têm um papel extremamente importante no filme. Creio ser o elo entre as coisas que acontecem e as que não acontecem.

Como eu avisei, escrever sobre Anticristo é estranho; logo, ler sobre também o é. Provavelmente esse texto vai parecer confuso e/ou mal escrito, mas tentem não jogar toda a culpa em mim. Imagino ter conseguido ao menos martelar na cabeça de vocês que Anticristo é um filme diferente.

Agora já posso dizer por que meu dia foi peculiar. Lá pela metade do filme eu começo a já preparar o que iria escrever sobre o filme. Se fosse só sobre o filme, tudo bem, mas acontece que desde que saí do cinema comecei a narrar os acontecimentos do dia para mim. Tratei o dia como o capítulo de um livro ou como um filme mesmo. Foi muito engraçado.

Quando o filme terminou, 18h02, pensei em ficar no aeroporto e assistir a Che 2 – A Guerrilha (Che: Part Two, 2008), mas acabei indo ao terminal do T11, e logo que este chegou foi o primeiro a entrar. Nunca tinha sido o primeiro a entrar no ônibus. Sentei no fundo, em cima na roda, mais alto, as pessoas não gostam, mais chance de ninguém sentar ao meu lado. Subindo o viaduto na frente do aeroporto, constato que levarei muito, muito tempo para voltar para casa. Olho pela janela, 18h08, um engarrafamento quilométrico. Porém não me incomodo. Naquele instante eu estava me sentindo muito feliz. Independente (quase), adulto (quase), pensei ‘Não preciso de um carro’. E vendo aquela fila de carros absurda, imaginei se não seria melhor ter pegado o trem de novo, e então mais um ônibus. Ou ter ficado para ver Che 2.

O fato é que realmente o T11 demorou, e muito, para chegar ao outro terminal, onde eu desci. Um CD e meio do Iron Maiden. Isso mesmo. Vocês têm noção de quanto tempo é isso? Desço do ônibus só às 19h22. O telefone não funcionou, então não consigo avisar a minha mão que cheguei (ela queria que eu ligasse para que ela fosse me pegar). Espero uns minutos, e sigo caminhando. Vendo de relance a cor do céu, ao invés de ir direto para casa, vou em direção a uma praça que possui uma vista fantástica do pôr-do-sol. Fico ali até terminar a última música do segundo CD do Iron que eu estava ouvindo. Não percebo a incrível rapidez com que o tempo passou desde eu chegar ao fim da linha do T11 até aquele momento. Já são 19h42! Mas valeu a pena. Ver o um pôr-do-sol tão fabuloso não estava nos meus planos.

Ainda quebrando o planejamento inicial de ir direto para casa, faço o caminho que ninguém mais conhece por aqui. A trilha do mato. Já estava quase escuro, havia um diálogo interno na minha cabeça:

- Eu não deveria.

- Mas eu vou.

Quando vi, já tinha entrado. Quando Alexander The Great tinha acabado lá em cima da praça, botei a trilha sonora de Coraline (Coraline, 2009) nos ouvidos. Não sei se foi coincidência, mas entrar em um caminho no meio da floresta, abandonado na prática, quase de noite, ouvindo as melodias que Bruno Coulais compôs para um filme de terror infantil (não só uma aventura fantástica, Coraline é um raro terror infantil, perfeito)... Essa situação era perfeita para refletir sobre Anticristo: um filme de terror que se passa no meio de uma floresta (não por acaso chamada de Éden). Eu estava tenso, muito, muito tenso. Mas não por causa do medo do sobrenatural, em parte presente em Anticristo, e sim em função dos humanos que eu poderia encontrar ali. Talvez meu inconsciente tenha trabalhado de forma a me fazer experimentar algo parecido com o que acontece no filme para que dessa forma eu pudesse entendê-lo melhor. Não sei. Mas não aconteceu nada. Foi apenas gratificantemente tenso.

Chego em casa às 20h, tomo banho, e já começo a escrever esse texto. Aí se dá a explicação do título desse post: O Caos Reina no Anticristo em mim. ‘Que coisa feia!’, ‘Ai que cara depressivo’, podem pensar alguns ao primeiro ler o título sem prestar atenção no que ele significa. Bom, todo mundo que já falou comigo sabe que eu sou um sujeito cético e ateu. Logo, Anticristo em mim, serve tanto para representar essa minha faceta, como também uma indireta de que eu escreveria sobre o filme Anticristo. E O Caos Reina, primeiro porque é uma fala presente em Anticristo, depois porque contatei isso fortemente durante dia (e noite). Eu não tinha planejado ver o pôr-do-sol, nem entrar na trilha do mato, nem narrar o dia para mim mesmo, nem comprar os livros com comprei no aeroporto, nem várias coisas. Um exemplo forte, eu tinha planejado terminar esse texto no mesmo dia em que o vivi. Estava super empolgado em contar tudo nos mínimos detalhes. Mas não deu. Fiquei com sono, e fui dormir (conseqüência de ter ficado mais do que o normal de horas acordado no dia anterior). E agora termino de escrever no dia seguinte, sem encontrar as mesmas palavras e combinações de palavras que eu estava pensando ontem. Então O Caos Reina no Anticristo em mim é, na real, um título bonito. Considero qualquer coisa anti-religião como boa. E caos não é uma coisa ruim. Não fosse pelo caos nunca teríamos surpresas durante nossa vida, e pelo menos eu adoro surpresas.

domingo, 18 de outubro de 2009

Nasce mais um!

Fiz um blog especialmente dedicado ao cinema.
http://fakeline.wordpress.com

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Um baque - Contos #3

Eu sabia que a inspiração não era pouca! Foi mais um conto!

Pac.

Já devia ter ido dormir. Mas não posso. Algo me intriga. Não sei o que é.

Pac.

Um ruído.

Pac.

Viro-me cama. Ligo abajur na cabeceira.

Pac.

Levanto a cabeça. Tento ouvir melhor.

Pac.

Sento ao lado da cama. Boto os óculos.

Pac.

Levanto. Caminho até a porta do quarto. Está entreaberta.

Pac.

Fecho-a. Viro-me em direção a cama. Sento. Escuto de novo.

Pac.

Estranho. Levanto. Vou até a porta de novo. Inclino a cabeça. Encosto o ouvido na madeira.

Pac.

Sem ranger, abro a porta lentamente. Apenas até a fresta ficar grande o suficiente para botar ali minha orelha.

Pac... pac... pac...

Choveu na noite anterior, mas não é uma goteira. É um som mais abafado. Um baque.

Pac.

Abro mais a porta. Coloco o rosto para fora do quarto. Fecho os olhos.

Pac... pac... pac...

O que pode ser? Não faço idéia. Vou descobrir. Abro a porta completamente. Ela range um pouco. Não sei dizer se isso é bom ou ruim.

Tenso!

PAC!

O barulho ficou mais forte. De repente! Mais como?

Tenso.

O barulho parou depois de ter ficado momentaneamente mais forte.

Tenso.

Está escuro. Dou um passo.

Tenso.

Não vou ligar a luz. É melhor não.

Tenso.

Estou na frente da escada.

Tenso

Desço o primeiro de grau.

Tenso.

O segundo...

Tenso.

O terceiro...

Tenso.

O quarto...

Tenso.

O quinto...

Tenso.

O sexto...

Tenso!

Paro de súbito. Algo me deixa inquieto. Não sei o que é.

Pac.

O barulho!

Pac.

O barulho voltou!

Pac.

Desço mais um degrau. O sétimo...

Pac.

Vou bater o pé com força. Ver o que acontece. O oitavo...

Pam!

Pac.

O barulho respondeu?! Foi logo em seguida! Vou fazer de novo. O nono...

Pam!

Pac!

Ele acelera á medida que eu piso! Mais rápido. O décimo... o décimo primeiro...

Pam! Pac! Pam! Pac!

O décimo segundo... o décimo terceiro... o decido quarto...

Pam! Pac! Pam! Pac! Pam! Pac!

Tropeço.

Tenso.

Caio.

Tenso

Chego ao segundo andar.

Tenso.

Silêncio de novo!

Tenso.

Sinto a perna direita.

Tenso.

Levanto.

Tenso.

A perna dói.

Tenso

Caminho até o próximo lance de escadas.

Tenso.

Desço o primeiro degrau.

Tenso.

O segundo...

Tenso.

O terceiro...

Tenso.

O quarto...

Tenso.

O quinto...

Tenso.

O sexto...

Tenso!

O sétimo!

Tenso!

O oitavo!

Tenso!

O nono!

Tenso!

O décimo, com força!

Tenso!

Pac!

Desgraça! O que é isso?! Mais uma vez! O décimo primeiro...

Pam! Pac!

Pulo os três últimos degraus.

PAM!

PAC!

CLAC!

Uma dor lancinante! Ah! Minha perna!

Pac.

Isso não pode estar certo.

Pac.

Uso os braços para me apoiar.

Pac... pac... pac...

Dobro o joelho esquerdo.

Pac... pac... pac...!

O barulho começa a se intensificar!

Pac... pac... pac...!

E vem em minha direção!

Pac... pac... pac...!

Levanto de novo.

Pac... pac... pac...!

Mal me apoio na perna direita, ela dói, aguda.

Pac.

Viro-me em direção ao terceiro lance de escadas.

Tenso.

O primeiro passo.

Tenso.

Quieto de novo.

Pac.

Não.

Pac!

O que diabos é isso?!

Pac... pac... pac...!

Mais um passo. O segundo...

Pac... pac... pac...!

Mais alto ainda! O terceiro...

Pac... Pac... Pac...!

Ah!

Pac... pac... pac...!

Chego na escada.

PAC! PAC! PAC!

Não! Para!

PAC! PAC! PAC!

Desço o primeiro degrau.

PAC! PAC! PAC!

Mais um... o segundo...

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

Mais um... o terceiro!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

O quarto!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

O quinto!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

Vou conseguir! Estou quase na metade! O sexto!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

De relance, olho para trás.

Tenso.

Ahhhh! Como assim?! Vai parar agora?

Tenso.

Respiro de vagar.

Tenso.

Olho para frente de novo ao dar mais um passo. O sétimo...

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

PAC! PAC! PAC!

Ahhh! O horror! Pulo o resto da escada!

Pac.

Sendo Espontâneo

Aos poucos interessados, aos transeuntes passageiros, com perdão do pleonasmo, saibam que estou feliz hoje. Uma série de acontecimentos que eu chego a chamar até de louváveis ocorreram comigo nos últimos cinco dias. Já os registrei do melhor modo possível. Escrevi-os à mão, sem preocupações quanto aos futuros olhos que passearão sobre minhas palavras, às quais usei da maneira mais espontânea possível, sem me preocupar com as frases que seguiriam a que escrevia no momento. Algo que só consigo fazer com papel e caneta - lápis não tanto, pois a possibilidade de apagar e reescrever são certo empecilho no ideal de espontaneidade. E sim, eu sei que apenas o fato de querer que a escrita saia espontânea já é algo que de certa forma impossibilita a espontaneidade da mesma. Porém como tudo que falamos e o que falam para nós não é espontâneo, tudo é planejado, mesmo que inconscientemente, sei que o ideal do ‘espontâneo’ nunca será atingido completamente, então faço o que posso para que o que impede essa espontaneidade esteja sempre em pequena escala. E funciona. Ao menos funciona para mim.

A inspiração está subindo e fermentando-se em meio aos neurônios descansados que perambulam em meu córtex cerebral. Chego até a improvisar um poema para a minha prima, ao responder o porquê de eu estar sorrindo em determinada foto. Afinal, eu não sou muito sorridente! Mas isso está mudando. Nem foi intencional que ‘Sorrindo, rindo e fazendo rir. E cantando! E compondo. Quase estudando. Quase amando. Um estrondo. ’ soasse poeticamente. Somente o ’um estrondo’ foi adicionado depois, com a determinação de rimar com ‘E compondo. ’. Não é grande coisa, mas é bonitinho, não?

Antes mesmo de eu perceber a recorrente sessão de coisas boas na minha vida, parte da inspiração que falo já estava bocejando de um sono profundo. Primeiro foi ajudar um amigo e escrever e compor uma música – de amor. Uma música que a princípio eu vi como exercício prático, somente, porém logo abracei a causa, e gostei do que estava fazendo. Uma letra simples, mas com emoção, verdade nos versos, acompanhada por uma melodia melosa no começo, e divertida do meio para o fim:

I was trying to change

You were my first opportunity and I couldn’t miss
But my body felt weaker, my brain could not think
And I didn’t find the right word to say to you

Right now is all mixed up, false and true
With everybody telling me things I should do
Don’t know if listen to them will help me thru

My thoughts don’t make any sense
Help me please, give a chance
Now I’m being corrupted by the pain
‘Cause I can’t even look at your bright eyes once again

Again, again, again
Again, again, again
Again, again, again

Today is time not to rewind
Those I thought was my friends I don’t want to remind
Today is time for me to find
The right way up, before I get blind

Today is time to make a stand
All by myself, without a helping hand
Today is time to time to meet new people
To make new friends, to move along
And tomorrow will be time to try again

Again, again, again
Again, again, again
Again, again, again

Caso fiquem dúvidas, o nome da música é Try Again (Tentar de novo). Tocá-la no Festival de Bandas do meu antigo colégio foi recompensável, apesar da nossa apresentação irregular. Nossa, digo, porque éramos três. Três violões somente. De onde derivou o nome da banda: Three Chords (Três Acordes). Dêem uma opinião sobre a letra! Se gostaram, orgulho-me em dizer metade do mérito é meu; se não gostaram, apenas retruco dizendo que só escrevi metade (muito embora a melodia seja só minha; digamos, fiz 2/3 da música, mas esses 2/3 só existem por que outra pessoa fez o 1/3 inicial, então a maior mérito é dele, e caso esteja ruim a maior parte da culpa é minha).

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O Que Fizeram Hoje? - Contos #2

O blog continua deletando os textos selecionados. Um grande mistério. Assim fica difícil de formatar a postagem. Mas vai mais um conto aí.


O Que Fizeram Hoje?

- Sabe o que fizeram hoje?
- Não.
- Não quer saber?
- Quero.
- Então porque não disse ‘Não. O que fizeram hoje?’?

Começou.

- Hein?
- Porque eu achei que a pergunta tinha ficado implícita.
- Mas não ficou.
- Tu não entendeu direito.
- Não. Tu que se expressou mal.
- Não. Tu está errada.
- Não, não estou. Tu está errado.
- Então ta. Tu está certa.

Abandono a discussão, e ela lança um olhar desconfiado.

- Sei...
- Sabe o quê?
- Nada.
- Como assim ‘Nada’? Tu disse ‘Sei’, então eu te pergunto o que tu sabe.
- Não é nada. Foi uma expressão!
- E o que tu expressou?

Um pouquinho do que parece ser raiva.

- Ah!
- Foi ‘Ah!’? Alguma coisa ta doendo?
- Para com isso!
- Para com o quê?

Um sorriso escondido. Ela desvia o rosto e começa a caminhar.

- Com essas perguntas!
- Por quê?
- Porque tu está me enchendo!
- Mas tu não ta gostando? Tu está rindo!
- Não é de... alegria.
- Tu está triste?
- Não!
- Então é o quê?

Seguro a mão dela.

- Não sei.
- É nervosismo.
- O quê? Não! Porque eu estaria nervosa?
- Essa pergunta é minha.

O riso vai embora. Ela fica quieta.

- Tu está nervosa porque tu quer que eu saiba de algo. Mas tu não sabe como me contar. Por isso que tu perguntou porque eu não tinha perguntado ‘O que fizeram hoje?’. Tu sabia que eu queria saber mesmo sem ter perguntado, mas como tu não sabe como me dizer, tu adiou a conversa. E por isso também que depois de eu ter desistido de continuar a discussão sobre quem estava certo ou errado sobre eu ter feito a pergunta implicitamente ou não tu comentou ‘Sei’ com ar de desconfiada. Tu queria e que eu comentasse e sabia que eu comentaria alguma coisa a partir do teu ‘Sei’. E isso porque tu queria algo que confirmasse que eu continuava interessado em saber ‘O que fizeram hoje?’, e ao mesmo tempo algo que alongasse a conversa ainda mais até o inevitável momento em que tu teria que me contar. O que fizeram hoje?

sábado, 3 de outubro de 2009

Blogger filho da puta!

Estava eu bem feliz escrevendo a porra da postagem do dia e quando seleciono o texto que acabo de escrever, para copiar e evitar que na hora de publicar a maldita postagem o texto não se perca, eis que esse blogger de merda apaga tudo que escrevi!!!
Ah, pelo menos salvou o rascunho..
Não!
Não salvou a bosta do rascunho!
Que se exploda em sopa fecal esse site de merda!!!!!!!!!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Capitalismo X Desenvolvimento Sustentável

O entardecer de hoje aconteceu para mim de um jeito muito interessante. Estava eu a caminhar ao acaso pelas ruas da minha pequena cidade, Wencestown, quando muitos acontecimentos sutis desenrolaram-se em frente aos meus olhos.
Entre tais ocorridos, o que me chamou a atenção foi um diálogo completamente espontâneo - à beira do Lago Guaíba - a respeito dos rumos que esperam o capitalismo frente os novos tempos.

Bom, o fato que o capitalismo não é uma teoria, é uma prática que foi "teorizada" posteriormente ao seu surgimento. Teoria essa denominada Liberalismo Econômico, prega a liberdade dos mercados e um gradual desenvolvimento da sociedade inteira naturalmente.

Obviamente que esse "jeitinho" natural o ser humano não conheceu ainda, valendo-se de estratégias escrupulosas e egoístas para fins de dominação de classes e até mesmo de povos sobre outros.

Questiono se o capitalismo é capaz de mudar e responder aos novos desafios do globo (como energéticos, ambientais, etc) sem entrar em uma forte contradição. Afinal de contas, a economia capitalista precisa de ampliação dos mercados e as novas idéias de sustentabilidade são de "reciclar" os recursos e reaproveitá-los, preservando assim um sistema econômico estável.

Por exemplo, o sistema capitalista extrai petróleo das profundidades do mundo. Essa extração permite a criação de milhões de empregos, pois uma vez que se têm o petróleo, se consegue gasolina e derivados. A gasolina constrói, por si só, toda a indústria de automóveis. Mais fábricas são agregadas à cadeia produtiva desses carros (alguém precisa extrair areia e fazer vidro para os pára-brisas; fazer tintas; sistemas eletrônicos; etc).
Todos os trabalhadores que adquirem relativa renda nessas estruturas, fazem surgir outros setores de serviços inúmeros, cooptando dessa maneira um contigente cada vez mais amplo de pessoas para fazer parte desse intrincado sistema.
Terras são aradas em larga escala para alimentar cidades que têm a base de tudo em uma substância viscosa das profundidades da crosta, o petróleo. Milhões famílias se formam através do dinheiro desse óleo fóssil. Guerras são feitas em nome desse óleo.

Que, ironicamente, um dia acabará.
Ou, se não acabar (existem pesquisas de produção inorgânica de petróleo), seu uso é condenável por ser responsável por muitas alterações ambientais graves no planeta.

Uma hipótese que eu acho, no mínimo, de se pensar, é se o desenvolvimento sustentável -como, por exemplo, bairros auto-suficientes em energia, água e alimentos- levaria ao estrangulamento "natural" do sistema capitalista, conduzindo a humanidade à uma economia mais saudável para a espécie.

Desestruturar as matrizes energéticas e de produção atuais resultaria em uma desestruturação do famoso antagonismo de classe "Trabalhadores X Proprietários"? Rejeito pensar a fundo. Deixo a resposta para o tempo.

Imagino que se em uma comunidade pequena (o "local" para o desenvolvimento sustentável é o foco e não o "global") auto-suficiente de recursos básicos, os seres humanos acabariam por suprimir as dominações de classe, visto que todos seriam associados e trabalhariam para a auto-suficiência dos recursos fundamentais.

Assim sendo, para o futuro eu aposto nas cooperativas , em sindicatos originais e, principalmente, no uso "limpo" da tecnologia.

Cooperativas permitem que os trabalhadores dividam o lucro da produção, gerando mais renda.

Sindicatos permitem uma organização mais coesa das classes trabalhadoras, fornecendo assim melhor suporte para as categorias de profissão.

Tecnologia limpa, essencialmente sobre uma base de educação voltada para objetivos sustentáveis, leva ao fim das tecnologias embasadas nas super-estruturas econômicas, como a do petróleo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Setembro no Cinema

01 – Cléo de 5 à 7 (1962) - **** - Cine F
01 – 100 Escovadas Antes de Dormir (2005) - **** - PC
02 – Retorno a Howards End (1992) - *** - TV
03 – Intriga Internacional (1959) - ***** - DVD
04 – O Sequestro do Metrô 123 (2009) - **** - Cinemark BarraShopping*
05 – O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001) - ***** - DVD
05 – O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (2002) - ***** - DVD
09 – Calígula (1979) - ***** - DVD
11 – Busca Implacável (2008) - *** - TV
13 – O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003) - ***** - DVD
15 – Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) - **** - Cine F
17 – O dia em que Dorival encarou a Guarda (curta - 1986) - **** - DVD
18 – Confissões de uma Ladra (1964) - *** - TV
21 – Zeitgeist (2007) - ***** - PC
22 – Up: Altas Aventuras (2009) - *** - Cinemark BarraShopping
22 – Psicose (1960) - ***** - TV
23 – Zeitgeist: Addendum - ***** - PC
23 – Dossiê Rê Barbosa (curta - 2008) - **** - TV
24 – O dia em que Dorival encarou a Guarda (curta - 1986) - **** - DVD
25 – Mar Aberto (2004) - **** - TV
29 – If... (1968) - ***** - Cine F

Agora também com os anos da produção dos filmes. 10 - *****; 7 - ****; 4 - ***. Mais uma boa média: 4,28. A mesma do mês passado.

Vocês notarão a presença dupla do curta-metragem O dia em que Dorival encarou a Guarda, e cada uma com uma nota diferente. Primeiro ****, depois *****. Isso deve ao fato de que na segunda vista eu ter percebi detalher que não tinha visto na primeira vez. Detalhes sutis que me fizeram gostar ainda mais do filme.

Quanto aos 'Melhores do Mês', no cinema a experiência foi fraca. Só fui duas vezes. Duas! Vergonha. O Sequestro do Metrô 123 como o melhor.




(sim, não achei Up grande coisa). Agora na TV e nos DVDs a história foi diferente. Até a categoria PC devo incluir dessa vez. Zeitgeist e Zeitgeist Addendum foram experiências fascinantes! Acho que não posso citá-los como os melhores do mês porque são documentários. Sem dúvidas são os filmes mais relevantes e importantes que vi esse mês. Enfim, considerando filmes em si, If... foi imprevisível e surpreendente, pois eu não esperava nada, e acabei vendo um baita filme (com quase o mesmo discurso anárquico do Zeitgeist - detalhe para os anos!). Mas acho que não há dúvidas que foram Psicose (a cena do chuveiro!)
.
e
O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei
.


os melhores filmes disparados que vi em setembro. No caso do segundo ainda mais imprecionante, talvez, pelo fato de ter assistido à edição estendida. Finalmente captei a grandeza do universo criado por J.R.R. Tolkien e concebido cinematograficamente por Peter Jackson. Nunca compreendia a admiração que todos sentiam por esses filmes. Agora eu entendo.

Aniversário e Renovação


Em Agosto o Diário Conspiratório completou seu primeiro ano de existência, e não fizemos nada. Não nos demos conta, e isso se reflete na ausência de leitores. Agora, porém, mudamos o visual do blog, demos uma renovada. Espero que futuramente sempre façamos isso no dia certo do aniversário do DC. E também desejo e peço aos repentinos leitores que sempre comentem em nossas postagens. Quando concordarem, mostrem isso. Nem que seja um simples 'Concordo'. E se não concordam, escrevam o que pensam o revelem seu ponto de vista.
Falo sério. É de uma importância inefável os comentários de vocês.
Vamos lá!