sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Falta de respeito à literatura = Atentado ao cinema; Ex: Eragon - O Filme

Christopher Paolini escreveu e publicou Eragon enquanto adolescente. Fez o sucesso digno de uma boa obra de fantasia. Não tardaram a aparecer ofertas de estúdios de cinema para comprar os direitos de adaptação. Emocionado com o sucesso precoce e, muito talvez, inesperado, Paolini vendeu os direitos. Ficou na expectativa de assistir ao filme baseado na sua história. Assistiu. Depois disso não sei, mas imagino que chorou, exclamou e gritou. Não por emoção... e sim por indignação.
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Eragon poderia ser um Senhor dos Anéis. Não precisaria de Peter Jackson na direção e no roteiro. Também era desnecessário o mesmo compositor e equipe de produção. Sim, o estúdio e o produtor sabiam disso. E acharam um 'ótimo' meio de fazer o filme: contrataram Stefan Fangmeier, um diretor estreante! Não é genial?
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Claro que não! Tudo bem, mas quem sabe o diretor pudesse ser um fã da história?... E não um idiota que conseguisse destruir um mundo mágico inspirado no maior clássico de fantasia da literatura e no maior clássico de ficção-científica do cinema (respectivamente: O Senhor dos Anéis e Guerra nas Estrelas). Foi a primeira vez que quis sair antes do fim da sessão.
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O filme é ruim por diversos meios.
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1. É uma péssima adaptação. Um livro maior que 400 páginas não pode ser comprimido em menos de duas horas de projeção (notem que Eragon tem somente 100 minutos). O roteiro não chega a ter 30% de fidelidade ao livro. Os primeiros 10 minutos são palpáveis, porém, a partir daí, o enredo é totalmente remodelado e foge de tudo que Paolini criou em seu livro de estréia. E como não poderia deixar de fazer, o roteiro manipulado destruiu todas possíveis chances de se fazer uma continuação. Todos os ganchos que Paolini deixou no livro para a história seguir linear, criativa e intrigantemente no segundo capítulo de sua Trilogia da Herança foram apagados completamente pelo ignorante roteirista (aliás, ignorantes, visto que foi quatro o número de roteiristas: Peter Buchman, Mark Rosenthal, Jesse Wigutow e Lawrence Konner – uma prática que quase sempre dá errado). Mas é claro que isso já não era o suficiente, faltava ainda fazer a história parecer um tremendo plágio de uma das duas maiores fontes de admiração de Paolini: Guerra nas Estrelas - coisa que o livro não faz.
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2. Atores. Eu não tenho muito que dizer. Não sei o que Jeremy Irons e John Malkovich foram fazer lá. Este último eu achei patético como o vilão Galbatorix. Irons é a única coisa boa vindo dos humanos que trabalharam frente às câmeras (aqui não conta Rachel Weiss, que fez um belíssimo trabalho, mas como a 'voz' de Saphira).
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3. Produção. Agora faço um parêntese: não li nenhum livro da série Harry Potter - e talvez por isso tenha gostado tanto dos filmes - mas convenhamos que esses são, pelo menos, uns caprichos de produção. Nem isso o filme do Eragon consegue fazer. Tem uma que outra locação bonita (e neste caso, os cenários são naturais). A direção de arte, também feita à quatro, é nula; os figurinos de Kym Barret e Carlo Poggioli são panos coloridos que os atores vestem; a fotografia de Hugh Johnson é raramente não ruim; a única coisa que se salva na produção do filme é o dragão (provavelmente por que é exatamente a visão que 'eu' imaginei; talvez isso tenha me influenciado em um julgamento leviano – mas a qualidade técnica de animação do dragão é fantástica), porém, os outros efeitos visuais do longa-metragem são apenas razoáveis. Outro detalhe que é exceção é a ótima trilha sonora de Patrick Doyle.
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4. Diretor. O que comentar? Já fiz isso no início do texto. Mas talvez, com um pouco de pena, eu tire parte de sua culpa para atribuí-la aos produtores John Davis, Wyck Godfrey e Alan Goodman - que tinham a obrigação de saber que um diretor não pode estrear numa produção dessas. Esse tipo de gente devia ser exonerado da Sétima Arte.
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Na hora de transformar um livro em filme, deve-se respeitar a integridade criativa e ideológica da obra que está sendo adaptada. Não cumprindo com isso, está-se desrespeitando o trabalho original e prejudicando o adaptado. Eragon - O Filme é um exemplo perfeito disso: um filme ruim. Aí está um dos problemas dessa falta de respeito à literatura que se encontra hoje.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

E o Cigarro?


A primeira vez que eu dei uma tragada em um cigarro alheio eu senti um gosto bom. Imediatamente eu pensei: "que merda". Aí que se encontra a grande ironia das drogas: é ruim justamente por ser bom. O mesmo eu jogo em cima do álcool (sim, o álcool também é uma droga), mas hoje irei poupar os alcolistas. Olho agora sobre os fumantes.
Quantas vezes eu assisti a cenas incríveis de sujeitos comportando-se de forma ousada sacarem um cigarro e poluir seus alvéolos pulmonares com as "trocentas" subtâncias tóxicas presentes no tabaco. É a clássica história: a criatura se influencia e reproduz o que seu cérebro julga ser "bacana"; e infelizes aqueles que não seguem a moral. Pobres caretas, frescos. A ironia é grande depois de uma vida inteira de cigarro. Pobres fumantes, com câncer, cuspindo pedaços de pulmão. Realmente eu creio ser desumando manter um indivíduo vivo no estado de um fumante morribundo. Entristece a alma.
Cigarro é veneno de rato, e se alguém disser ser macho ao fumar veneno de rato, está no nível de valentia dos ratos. E não me venham também com o papo furado de "liberdade" , tabaco não tem nada a ver com a Revolução Francesa. Muito pelo contrário, liberdade nenhuma, nem física nem pscicológica, o cigarro traz para a vida das pessoas. Imagina se faltar dinheiro? Adeus fuminho.

Não à Redação

Quase todos me criticam quando critico a disciplina de Redação, tanto no colégio quanto nos vestibulares. Não penso assim por tirar notas baixas e querer mudar tudo só para passar de ano com mais facilidade - pelo contrário, minhas notas são muito satisfatórias. É justamente por considerar a prática da escrita extremamente valiosa, que me posiciono contra o modo como ela é exigida. Não me conformo com o jeito que as redações são corrigidas (não considero válidos os critérios de avaliação atualmente empregados, assim como a própria concepção de 'Redação'). Enfim, consegui encontrar o melhor modo possível para transmitir o que penso em relação à Redação: "A Redação não é ilógica. Ela tem uma lógica. O ilógico é exigir essa lógica para que algo seja considerado lógico".

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O Brasil, sua imprensa, e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro

O Ministério da Cultura e a Secretaria Audiovisual abriram as inscrições para os cineastas brasileiros que querem um lugar entre os cinco filmes indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Dia 16 de setembro, 8 dias depois do término das candidaturas, será eleito e informado ao público o nome do filme - escolhido por um júri de seis especialistas. A partir daí, o longa-metragem brasileiro passará pelos critérios da Academia de Artes de Ciências Cinematográficas (o Oscar) para ver se o filme é elegível. Se estiver dentro dos padrões, ele será assistido por uma comissão técnica específica da categoria Melhor Filme Estrangeiro - junto aos outros 95 filmes dos outros 95 países para quem a Academia enviou os formulários da competição. Desses 96 filmes, apenas 9 serão selecionados como 'semi-finalistas'. Então, são assistidos novamente e 5 ficam com as vagas. A votação para o vencedor é feita por todos que integram a Academia (contando que tenham visto os 5 indicados).
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(Creio ter explicado direito todo o processo de seleção dos longas-metragens.)
Pois bem, por que o Brasil quer tanto esse Oscar? E não me venham dizer que não sabiam disso! Todo ano, nas vésperas da realização do evento, a mídia brasileira fica enchendo jornais, revistas, televisão; fazendo de tudo para que o público brasileiro assista o Oscar na esperança de ver o país ser agraciado com uma estatueta. Por quê? Por amor à Pátria? Para nos induzir à cultura? Não. Eu acho que não.
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Não posso ter certeza, uma vez que não vivenciei a época e só comecei a me informar do assunto por volta de três anos, mas parece que praticamente desde que o Brasil se livrou da censura da Ditadura Militar, em 1985, estamos sedentos por um Oscar. Acabados mais de 20 anos de proibição de liberdade de imprensa, eu entendo esse desejo enlouquecido de mostrar para o mundo do que o Brasil era capaz de realizar (artisticamente, no caso). Porém, agora (23 anos depois), esse pensamento: “Vamos mostrar do que somos capazes!” não me convence. Soa falso. E pior, é falso. A imprensa brasileira, ao invés de melhorar com o aumento de concorrência, sofreu o efeito contrário. Piorou.
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Salvo raríssimas exceções, tudo é panfletário, superficial, comprado. Por essa razão (e outra que logo explicarei no próximo parágrafo) eu acredito que a propaganda que surge no período entre dezembro e fevereiro, na época do Oscar, falando coisas do gênero: “O Brasil tem fortes chances de ser indicado!”, não passa de uma falsidade. Uma mentira criada para atrair audiência às emissoras de TV aberta.
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Outro motivo que me faz descrer na mídia está no fato dela ser extremamente burra (também parte daquele efeito contrário da concorrência que já comentei no segundo parágrafo). É incrível a quantidade de equívocos que jornalistas de todas as áreas cometem (errar é humano, mas um suposto profissional, que escreve todo dia e erra todo dia, não deve ser tolerado). O cinema, junto a todo resto, fica obviamente prejudicado com isso. Por exemplo, as mesmas propagandas que falam que filmes nacionais têm grandes chances em levar um prêmio, em 90% das ocasiões, não sabem do que falam. Ou mentem por ignorância, ou por que querem vender qualquer informação, sendo ela verdadeira ou falsa (o caso das emissoras de TV aberta). Certamente o segundo caso é o pior. Sim, o ignorante também está errado; agora, quem sabe da mentira e mesmo assim publica afirmando ser verdade é muito pior. E é exatamente isso que faz a assustadora maioria de todos os jornais que se encontram por aí (não só no Brasil, mas nos atemos a esses casos).
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Dou, então, os dois exemplos mais relevantes dessa incompetência jornalística no Brasil, no campo do cinema.
*2004: Cidade de Deus consegue o feito inacreditável de ser indicado a quatro Oscars (de fato, isso foi fenomenal). Logo em seguida saem propagandas afirmando que o Brasil tem chances de ganhar... Convenhamos que 2004 foi o ano de O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei. Mesmo apreciando o filme, mas não sendo grande fã, sabia que iria ganhar praticamente tudo à que foi indicado. E não era só eu, todos sabiam disso. E como Cidade de Deus foi indicado em quatro das 11 categorias em que O Senhor dos Anéis competia, estava mais do que claro que o filme de Fernando Meireles contava na competição apenas como um “convidado de honra”.
*2005: Todo país ficou emocionado e maravilhado com o filme 2 Filhos de Francisco. E esse foi o escolhido por aqueles seis especialistas que integram o júri que escolhe o longa-metragem brasileiro que competirá no Oscar. E, claro, a mídia se largou em cima e começou novamente a “Campanha para o Brasil ganhar um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro”. Só tem um problema. Ao contrário de Cidade de Deus, que teve uma propaganda imensa fora do Brasil, com 2 Filhos de Francisco isso não ocorreu. Não ocorreu por que, com um filme superestimado nas mãos, os produtores pensaram que tinham um lugar certo entre os indicados, e não se deram ao trabalho de lançar o filme em grande escala no exterior (leia-se: EUA). Logo, sem a publicidade necessária para ser reconhecido, o filme não foi levado a sério pela comissão responsável eleger os indicados a Melhor Filme Estrangeiro. Resultado: 2 Filhos de Francisco não foi indicado.
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Por fim chegamos os dois pontos que gostaria de comentar para fechar essa postagem: o júri - dos seis especialistas que definem qual filme lutará por uma indicação – e a política do Oscar em escolher o vencedor.
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Primeiro o júri. Esse júri explica bem mais um motivo que explica por que a mídia é idiota. Simples assim: se o júri, composto por supostos especialistas do ramo, já é incompetente na sua função, como é que a mídia pode ser responsabilizada pela sua própria ignorância dentro do mesmo meio? Se, em 2006 (para ser indicado em 2007) ao invés de escolher Anjos do Sol, o júri prefere Cinema, Aspirinas e Urubus, como podemos confiar nessa equipe de “especialistas?”. Não estou desmerecendo uma ou outra produção, mas é muito mais garantido ganhar um Oscar com um drama sobre prostituição infantil do que tentar apostar em uma comédia em que um alemão e um nordestino vendem aspirinas pelo sertão brasileiro. Se o júri soubesse disso, ou levasse isso em consideração, provavelmente já teríamos ganhado um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
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Finalizando, falo rapidamente do modo como os eleitores dos indicados a Melhor Filme Estrangeiro se portam. Mais do que tudo, para passar a ser um dos 9 ‘semi-finalistas’, e aí sim ter alguma chance, é imprescindível a propaganda. É impossível passar pela primeira fase de classificação sem ser bem reconhecido nos Estados Unidos. Esse é o primeiro pré-requisito. O segundo, para chegar a uma das 5 vagas finais, é a necessidade do filme de ter um enredo ‘emocionalmente preenchido’. Com isso quero dizer que é preciso uma forte carga emocional. Uma cena impactante, preferivelmente nos minutos finais, é quase que um passe livre para ficar entre os 5 indicados. Por quê? Por que quem elege os indicados vota logo depois da sessão dos mesmos. Ou seja, o filme que mais emocionar o votante, levará o voto.
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Qualquer dúvida, pergunte. Qualquer comentário, comente. Qualquer contestação, conteste (mas faça isso mantendo a classe - tudo que pode ser feito, pode ser bem feito)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Normas

Tudo que é ininteligível será apagado. Porém, não digo com isso que é necessário o emprego da norma culta formal. De modo algum. Mas o quanto mais concisos e coesos forem seus comentários, melhor para todos que vocês desejam que os leiam.

Expressamente proibido (!):

-anonimato;
-comentários vazios/sem nexo/desnecessários;
-falta de respeito à opinião de qualquer um que seja;

Born to be Wild

Devido aos pseudo-intelectuais; aos que dizem muito sem dizer nada; àqueles que fazem questão de comentar algo vazio ou sem nexo; aos hipócritas...
Devido à existência desses e, por conseqüência, da falta de pessoas que pensam sobriamente - com as quais poderíamos expor nossas opiniões e manter um diálogo conciso...
Este blog foi criado (apesar do título seletivo) com o fim de comentar e discutir tudo que valha ser comentado e discutido com quem se vale comentar e discutir.