segunda-feira, 27 de junho de 2011

Como analisar um anúncio?

Pergunto-lhes, como analisar um anúncio? Ou melhor, como processar textualmente essa análise mental? O primeiro passo é encontrar um anúncio.

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Feita tal obstinada escolha,

encontrado o anúncio, o próximo passo é sentar-se e manter os olhos em cima do mesmo por tempo indeterminado até digeri-lo em sua completude.
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Feita a digestão “gestáltica” da imagem e percebida a estrutura da disposição interna dos objetos ali presentes, é hora de transcrever para o papel tudo de pertinente que se pensou durante esse processo digestivo metafórico.

1. Visual claro, clean, passa uma imagem calma, simpática da marca Lacta. O consumidor pode não ter sua atenção totalmente captada pelo anúncio, mas o visual clean do anúncio foi feito sob medida para evitar a rejeição de qualquer pessoa. Pode até não necessariamente agradar, mas com certeza não irá desagradar.

2. A disposição dos elementos que compõem o todo do anúncio, apesar de assimétrica, é bem ordenada, evitando que o olhar do consumidor se perca. O único elemento que foge um pouco da harmonia é o próprio logo da marca, pois, além de não cair na mesma linha horizontal que as outras palavras do anúncio, aparece muito próximo às figuras dos produtos, gerando certo desconforto visual, ainda que mínimo. O conjunto do anúncio funciona melhor, visualmente, excluindo-se o logo. O que não teria muito sentido, então que fique o logo. Dos males, o menor.

3. Nota-se uma grafia mais grossa nas primeiras palavras da frase: “5 novidades [...] você de boca aberta”. Tal opção se dá devido ao fato de a leitura visual do consumidor se iniciar por este ponto: o canto superior esquerdo. Assim, as palavras reforçam sua presença aos olhos do espectador, chamando mais ainda sua atenção.

4. O uso da fonte assimétrica para as letras funciona para deixar a mensagem mais descontraía.

5. E até se pode considerar isso como uma referência ao estado de êxtase que se tem ao comer um bom chocolate: os olhos fechados, ao mastigar devagar sem a menor preocupação, ao passo em que se geme lentamente um sutil “hum”. A expressão humana que denota prazer gastronômico. A assimetria da fonte, gerando letras grandes, médias e pequenas misturadas, com serifas caóticas, serve como espécie de analogia para esse estado de espírito humano.

6. A ideia da descontração também é reforçada pelo rosto (feminino) belo e jovem que ocupa praticamente todo o lado direito do anúncio.

7. A modelo foi escolhida a dedo, dá para notar, ainda que seus olhos não apareçam, o que é uma escolha inteligente, pois obriga o consumidor a se colocar no lugar daquela pessoa de boca aberta pronta para dar uma mordida. Com o produto sendo uma comida, nada mais justo.

8. Depois, a diagramação das palavras em cone, como que saindo da boca da modelo, além de aproveitar bem a foto, ao formar uma mensagem econômica propondo mais um uso para a boca aberta, aproxima o consumidor através de uma empatia com aquela figura humana. É “ela”, modelo/mulher, que está convidando ele, consumidor, para provar as novidades da Lacta, não o anúncio. Aprofundando um pouco mais, pode-se até associar arbitrariamente o nome “Lacta” à figura da modelo. Ou seja, é a “Lacta-pessoa” (símbolo) que está chamando, e não a “Lacta-empresa” (entidade). Tudo isso em nível inconsciente, claro.

9. E independente disso, ordenar as palavras de modo às duas primeiras frases serem compostas por quatro palavras ao passo que as duas últimas por três ajuda a criar uma harmonia ao campo geral do anúncio.

10. E formando uma tríade com a boca aberta para morder e as palavras saindo da mesma, o resto do texto completa a mensagem, pois ao brincar com o significado das palavras “aberta” e “fechada”, repetindo as mesmas, cria um efeito verbal para representar o ato de mastigar, sem a necessidade de usar qualquer onomatopéia. Do mesmo modo, alternar “aberta” e “fechada” não só horizontalmente, mas na vertical, evitando que a mesma palavra se repita sobre (acima) a outra, complementa o contraste visual da frase, pois reforça a ideia do mastigar, que obrigatoriamente se dá na alternância da boca entre “aberta” e “fechada”.

11. Finalmente, também em função da boca aberta do modo como está, o espectador mais pervertido pode até imaginar que o objeto a ser ali inserido não seja necessariamente um inocente bis, e mesmo isso pode incentivar a compra do produto.

Feita a análise de um anúncio.

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