sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A Comuna de Oaxaca - por Iporã Possantti

Eu estou farto de ouvir aquela velha história - a qual pregam desde os anos 90 até os dias de hoje - que "o Socialismo não deu certo", "o Capitalismo venceu" e aquele "blá blá blá" infernal que se fala e escreve por todos os cantos da mídia convencional e elitista do mundo inteiro.

Não que eu acredite ser a Venezuela, Bolívia, Cuba, China, Coréia do Norte (me recuso a citar o Irã) e qualquer país africano que se intitule Socialista sejam efetivamente Marxistas. Muito pelo contrário, o velho barbudo provavelmente deve esmurrar o seu túmulo sempre que esses países carregam consigo as "vestes " socialistas. Hugo Chávez, por exemplo, merece seu mérito por desafiar tanto como desafia o Imperialismo Estadounidense, mas as transformações socias, as "quebras de estrutura" que o socialismo leva, não estão acontecendo na Venezuela.
Em Cuba e Coréia do Norte existem regimes claramente autoritários. Autoridade e Socialismo juntas é uma grande aberração. 

Coréia do Norte e Cuba são Ditaduras "vestidas" de Socialismo

Desde a década de 1990, os partidos de esquerda do mundo inteiro se tornaram oportunistas e pelegos. O crescimento econômico, impulsionado pelo Neo-liberalismo,  atrai a quase todos a uma bela armadilha: o consumo desenfreado e o explendor da riqueza. 
Entretanto, esta beleza se sustenta através de processos e valores completamente destrutivos aos seres humanos e ao planeta em que vivem. Para manter a economia de livre mercado, os regimes e governos estabelecem leis que - no papel - parecem razoavelmente justas, entretanto, na realidade atingem níveis de insanidade absurdas. Por exemplo, algum esfomeado, sabe-se por que razão do destino, se vê em frente a um restaurante. Sem alguns níqueis e cédulas de papel no bolso este esfomeado irá continuar em suas condições desgradantes. Simplesmente até morrer. Mas quem sabe este aprenda a comer papel, cascas de frutas nos lixos, etc. 

São as idéias por detrás das relações humanas que faz o nosso mundo ser um lugar inóspito para aqueles desprovidos de dinheiro. 

As relações financeiras e valores capitalistas são as forças que movem todos os aspectos da nossa sociedade

Enfim, a distribuição de renda irregular entre os humanos é fruto de superestruturas econômicas, políticas e ideológicas.

O Socialismo prevê a destruição das tais superestruturas. Instiga que os trabalhadores, ou seja, a base de toda a sociedade, devam se impor sobre as leis e a ordem social, estabelecendo assim uma nova ordem, um novo Estado (dirigido por todos os trabalhadores), movido por novas idéias e construindo novas Leis, condizentes dessa forma com quem as faz.
O Socialismo historicamente pouco teve sucesso. As tentativas ou foram destruídas pelas forças conservadoras, ou fracassaram por questões internas. 

Seria então uma "Utopia"? Não, só seria "Utopia" se a fome fosse uma "Utopia". 

E uma prova de que o Socialismo, a Democracia do Povo, o Marxismo não está extinto remonta ao ano de 2006.


A Comuna de Oaxaca

Oaxaca é o nome de um Estado - e sua respectiva Capital- do Sul do México. Como todos os países Latino-Americanos, as oligarquias brancas retêm o controle do Governo e a grande massa mestiça e indígena é explorada desde os tempos de Colônia Européia, além da economia servir cautelosamente às reivindicações do Imperialismo Estadounidense, mantendo assim todo o continente sob forma de "periferia" da potência econômica que é os EUA. Salvo alguns aspectos, o Brasil também se caracteriza por essa estrutura socio-político-econômica.

Em 22 de Maio de 2006 o Estado de Oaxaca mergulhou em uma tempestade. Quando o Governador Oligarca Ullises Ruiz negou-se a ouvir as reivindicações salariais de professores de Escolas de Ensino Público e, para resolver a questão das centenas de educadores em greve e manifestando pelas ruas da cidade, ordenou que a Polícia Estadual desse cabo dos professores "vagabundos" e "ingratos" de uma vez. Os repressores foram "descer o cacete" mas os "vagabundos" que desceram o cacete na PE. Foi o primeiro combate violento entre a população e o Estado em Oaxaca. 

Com o conflito de 22 de Maio de 2006 que se suscedeu a criação da APPO - Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca

Sendo o conjunto de diversas organizações sociais unidas da cidade de Oaxaca, a APPO passou a planejar ataques ao governo Oaxaquenho, e , durante 5 meses, teve o controle efetivo da cidade de Oaxaca. Através de manifestações, a APPO obteve êxito em combater o Governo Repressor de Ullises Ruiz. O povo simplesmente desacatou o governo e aderiu em massa à causa da APPO.
Além de agir na guerrilha urbana contra as forças policiais, os integrantes da Assembléia adquiriram os meios de comunicação públicos da cidade, como a o canal 9 da televisão que foi tomada pelos Oaxaquenhos e a Rádio da Universidade - que foi cedida pelos Universitários. A transmição desses meios de comunicação passou a ser informações, notícias, programação infantil, educativa e cultural.

 A APPO tornou-se um órgão popular e passou a efrentar o Governo

A situação completamente fora de controle passou a piorar para o Sr. Governador Ullises Ruiz quando as greves se alastraram pelo resto do Estado de Oaxaca e a APPO cresceu a ponto de chegar em novos municípios. Apesar do número de assassinatos pela Polícia crescer, o Estado de Oaxaca inteiro estava simplesmente se esvaindo pelas mãos do Governador.

Entretanto, em 26 de Outubro, a APPO conseguiu fazer negociações com o Senado Mexicano e aparentemente as reinvindicações seriam atendidas.

Engano!

Em 28 de Outubro a Polícia Federal estava na Capital de Oaxaca.

O governo exigiu dos membros da APPO a entrega da cidade. Dessa vez foi a vez da APPO se negar. 

Bom, a imagem mostra um pouco dos resultados.
Os rebeldes foram, massacrados, presos e, em muitos casos mortos. Houve até um jornalista Norte Americano ( Bradley Roland Will  )que foi assassinado covardemente pela Polícia Mexicana. 

Em todas as Capitais da Europa aconteceram protestos públicos em relação às injustiças e em favor da liberdade e supremacia da APPO. No Brasil, apenas algumas pixações. Acredito que está na hora de se dar conta em que país vivemos e como as informações chegam à sociedade.

Afinal de contas, o Brasil e o Mundo são Oaxaca também.

2 comentários:

Guilherme Huyer disse...

Confesso que não sou adepto ao conceito de Socialismo. Sou, sim, um capitalista. Tenho um lado consumista e individual muito grande. E nesse sentido não temo em ser considerado egoísta. Se comprar um livro ou um filme, gosto de dizer ‘É meu!’. Porém, à exclusão de mim e não muitos outros, grande parte dos capitalistas, em geral, não entendem seu próprio conceito de governo. Parece que nunca pegaram um dicionário para ver o significado de democracia: “Governo do povo. / Regime político que se funda na soberania popular, na liberdade eleitoral, na divisão de poderes e no controle da autoridade”. Logo, subentende-se que a população possui o direito (’soberania popular’) de escolher (‘liberdade eleitoral’) quem os irá governar (‘Governo do povo’). Portanto, caso a maioria da população escolha passar de Capitalismo para Socialismo, tendo em vista a concepção de democracia, não há nada de errado com isso (quando o Governo se recusa a tal, o problema se deve à pessoa que o possui, não ao Sistema em si). Agora, o contrário, não é bem assim. Se a população quisesse passar de Socialismo para Capitalismo, isso não seria possível, ironicamente, sem grandes revoltas sociais, uma vez que Socialismo e democracia não andam juntos.

Iporã Possantti disse...

Te entendo. Entretanto, eu discordo quando tu se classifica como um capitalista. Vejo o capitalista como aquele indivíduo que é proprietário dos bens de produção. Uma empresa, uma fábrica, enfim, algo que produza e dê lucro. Capitalismo não significa individualismo de maneira alguma. Para melhor me expressar cito uma passagem de "A Alma do Homem Sob o Socialismo" de Oscar Wilde (um homem que nunca foi pobre):

"A propriedade privada esmagou o verdadeiro Indivudualismo e criou um Individualismo falso. Possibilitou que uma parcela da comunidade social se individualizasse, fazendo outra passar fome."

Oscar Wilde coloca nesse livro, entre outros assuntos, que a propriedade privada (e o capitalismo por consequência) faz dos homens loucos e infelizes, pois o suas idéias acham que o importante é Ter, e não Ser.

Este livro é genial em relação a estas questões ideológicas entre Socialismo e Capitalismo. Inclusive ele prevê a ruína do Socialismo: o "Socialismo Autoritário".